Volta

Sermão do Monshu Sen-nyo

Celebração para Oficialização da Sucessão na Tradição do Dharma

A maneira de viver de um seguidor do Nembutsu

O Budismo iniciou quando Shakyamuni atingiu a Iluminação se tornando Buda, aproximadamente dois mil e quinhentos anos atrás. No Japão, o Budismo era chamado o Dharma do Buda. Neste caso, o Dharma significa a verdadeira realidade deste mundo e de nós, seres humanos. Esta é a verdade universal que transcende o tempo e o espaço. O Buda é quem realizou esta verdade e despertou. Assim o Budismo nos ensina o caminho de viver transcendendo os nossos sofrimentos.
No Budismo, as realidades deste mundo e de nós próprios se expressam como “Impermanência de todos os fenômenos” e “Interdependência”. “Inpermanência de todos os fenômenos” significa que todos os fenômenos existem à partir de suas causas e condições que se relacionam mutuamente em cada instante. Por isso, na realidade desse mundo não há um “eu” fixo e imutável.
No entanto, nós não percebemos a verdadeira realidade, e supomos que o “eu” seja algo estável e firme, com o pensamento centrado em si, como se, por exemplo, mérito ou demérito visassem a si ou para satisfazer o seu próprio desejo, restando apenas questionar qual é preferível ou não. Desse pressuposto resultam frustrações quando não conseguimos realizar os nossos desejos, criamos conflitos, e não conseguimos nos livrar de uma vida de sofrimento. Essa característica ego-centrada que contraria a verdade, o Budismo chama de “paixão maléfica sem sabedoria”, e é a causa que nos prende neste mundo de ilusão. As três paixões maléficas representativas são ganância, ira e ignorância, que em conjunto se chamam de a “paixão maléfica de três venenos”.



Shinran Shonin se dedicou à práticas severas durante vinte anos no monte Hiei buscando vencer as paixões maléficas e atingir a Iluminação do Buda. Porém, por fim reconheceu a profundidade dessas paixões e percebeu ser impossível extingui-las por esforço próprio através de qualquer prática a que pudesse se dedicar. O Tathagata Amida é o Buda que salva todos os que sofrem e se afligem, sem lhes impor exigências, desejando conduzi-los ao mundo da Iluminação, e assim continua agindo de acordo com o seu voto. Este voto se chama o Voto Original. O Voto Original do Tathagata Amida é tão gratificante e incomparável que nos salva tal como somos, enquanto estamos perdidos no mundo de apego e do egoísmo sem chance de nos libertarmos por nós mesmos. Porém, apesar de estarmos no seio desta salvação aqui e agora, não conseguimos confiar de modo pleno nesta Compaixão. A tolice de não nos alegrarmos, é algo lastimável e mostra a profundidade da paixão maléfica.
Quando recebermos a oportunidade de ouvir o Voto Original do Tathagata Amida, tornaremo-nos quem percebe que a nossa existência carece de sabedoria, e vivemos no ego-centrismo. Seremos então transformados em alguém que busca exercer, o controle possível nas ações e palavras, e nos transformando pouco a pouco em alguém que vai se livrando das paixões maléficas. Isso nos leva, por exemplo, a viver buscando “desejar pouco e nos satisfazer com o suficiente”, enquanto nos relacionamos com os outros com “o rosto sereno e as palavras gentis”.
Mesmo que estejamos apenas imitando o Buda, se aspiramos viver assim isso nos leva a sermos educados e nos conduz à verdadeira realidade. Shinran Shonin nos revela este pensamento numa carta à um discípulo seu: “Agora, guiados pelos meios compassivos de Shakyamuni e Amida, nós podemos, finalmente, começar a ouvir sobre o Voto de Amida. Antes, nós estávamos embriagados pela ignorância e apreciávamos apenas os três venenos da ganância, da ira e da ignorância. Desde que nós começamos a ouvir sobre o Voto, gradualmente, o efeito da embriaguez causada pela ignorância foi aliviando e, pouco a pouco, passamos a rejeitar os três venenos, preferindo assim o remédio do Buda Amida.” (Mattosho Cartas de Shinran, p.98, 4ª linha antes da última). Essa é uma orientação bem preciosa.
Hoje o mundo está cheio de problemas sérios que ameaçam a vida humana no âmbito mundial como o terrorismo, o conflito de forças armadas, a discriminação econômica, o aquecimento global, a propagação de material radioativo e a repressão dos direitos humanos inclusive a discriminação. A raiz dessas causas está em nossa paixão maléfica sem sabedoria que vive contrariando a verdadeira realidade. Somos aqueles que vivem repletos de paixão maléfica amarrados por seus desejos, sem conseguirmos realizar as ações inteiramente puras sem nenhum apego como o Buda. Mesmo assim, quando vivemos com o Dharma do Buda como a nossa base, vamos nos tornando alguém que vive considerando a alegria dos outros como nossa e o sofrimento de outros como nosso, nos direcionando, mesmo que seja um pouco, a um modo de viver de acordo com o coração do Buda e buscando nos empenhar ao máximo. Que cada um de nós transmita a todos, sem distinguir dentro ou fora do país, a sabedoria e a compaixão do Tathagata Amida, sem nos desviarmos do sentido, de modo acessível, de acordo com o coração do Buda. Assim, busquemos nos dedicar a contribuir para a realização da sociedade em que se viva uma experiência espiritualmente plena. Para a felicidade do mundo, caminhemos firmemente unidos, através da promoção do Movimento da Ação na prática.

1 de outubro de 2016

Jodo Shinshu Hongwanji-ha
OHTANI Kojun