Volta

Uma retrospectiva

Numa terra desconhecida, onde clima, costume e língua eram totalmente diferentes dos seus, os imigrantes passaram por dificuldades e sofrimentos indescritíveis ao desbravarem as matas, e o falecimento por exaustão física era algo constante entre os pioneiros. Mesmo vivendo em condições precárias como essas, porém, eles continuaram valorizando os ensinamentos da Jodo Shinshu que era, de fato, o que os motivava para continuarem firmes em sua labuta. Chegamos aos dias de hoje recebendo os legados das virtudes e incansáveis esforços dos nossos antecessores já falecidos.

Com a deflagração da Guerra do Pacífico em 08 de dezembro de 1941, o Brasil rompeu as relações internacionais com o Japão. O comportamento dos japoneses na sociedade brasileira foi cerceado e a vigilância das autoridades oficiais tornou-se rigorosa, chegando ao ponto de impedir que mais de três japoneses se reunissem. Assim, tornou-se inevitável a interrupção da transmissão do Darma. A sociedade nipônica no Brasil mergulhou num período crítico, em que tanto os bens materiais como até mesmo a própria vida dos japoneses não estavam mais seguros.

Em 15 de agosto de 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial, abandonando o sonho de retornarem à terra natal, os japoneses decidiram permanecer em definitivo no Brasil. Foi como ver uma luz num túnel escuro. A sociedade nipônica recuperava sua esperança e a vibração. Na mesma época, movimentos dos adeptos budistas da sociedade nipônica adquiriam novo ânimo com a aprovação da liberdade de crença na constituição brasileira. Assim, no Templo Matriz Mundial do Japão foram dados os primeiros passos para iniciar, oficialmente, a atividade missionária no Brasil.

Em 19 de abril de 1950, foi criada a Secretaria Missionária da Jodo Shinshu Honpa Hongwanji na capital paulista. E, em 14 de julho do mesmo ano, o Templo Matriz Mundial do Japão enviou os documentos aprovando esta secretaria. Desta forma, a Secretaria Missionária da Jodo Shinshu Honpa Hongwanji no Brasil foi estabelecida em caráter oficial 42 anos após o início da imigração japonesa. Afinal, o anseio de todos os adeptos pioneiros que arriscaram suas vidas para continuar professando sua religiosidade, se concretizava com o início das atividades missionárias neste imenso território que desbravaram.

Atualmente, no mundo caótico em que vivemos, onde as atitudes dos seres humanos são constantemente questionadas com a perda da dignidade, devemos aprender com o exemplo da vida do Mestre Shinran que viveu também numa época tão conturbada. Neste século XXI, mais do que nunca, temos que retomar o mesmo anseio do Mestre Shinran que disse: “_ Que a paz e a serenidade prevaleçam no mundo todo, e que o Darma se propague!”.

Shinsho Sassaki
11° Superintendente da Comunidade Budista
Sul Americana Jodo Shinshu Honpa Hongwanjii